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Publicado no catálogo da exposição Olhares imersos,
de Humberto Nicoline
(Museu de Arte
Murilo Mendes, Juiz de Fora, dez. 2014)
Humberto Nicoline, por Fernando Barbosa |
Fernando Fiorese
Nestas tantas fotografias,
nenhuma falta. Cada qual inteira, como qualquer mundo em miniatura. Durável,
como o rabisco do primeiro relâmpago na memória. Portátil, como um livro antes
da leitura. Nenhum excesso. Aqui, o cúmulo encontra o seu grau zero.
Personagens, bichos, objetos, paisagens, acontecimentos: cada coisa um seu
lugar. Pode-se desdobrar os possíveis dos acidentes, acarinhar os bichos mais
arredios, tocar as máscaras das personagens, arrastar o horizonte da paisagem,
surpreender os objetos em si – esses outros esquecidos. O que falta falta ao real, pois o tempo o fez
perder: a totalidade. O real que continua sem a fotografia não é menos
instantâneo e fragmentário. Decerto mais urgente, mais casual, mais
desarrumado, mais famélico, mais mortal. Analogon
da desejada e impossível morte feliz, a fotografia faz iguais o minúsculo e o
monstruoso, coloca o tempo e a matéria na medida do homem, abre um mundo nos
arredores da infância ou da utopia, rubrica os pés bailarinos, céleres e
casuais do devir. Sem gambiarras ou manobras químicas, o olho-máquina de
Humberto Nicoline sabe mudar o fragmento em cosmos, o instantâneo em pequena
eternidade, a mecânica em memória. Porque se a máquina recorta o espaço, seus
limites, cumpre ao olho surpreender, com obstinado rigor, o tempo justo e
preciso em que o acaso encontra o mais belo arranjo das coisas e dos corpos.
Assim o fotógrafo nos oferta o repertório de agoras que dá sentido à
biografia de cada um e à história de todos nós.
Juiz de Fora, inverno de 2014
Fotografias de Humberto Nicoline
JF anos 80: fotografias, de Humberto Nicoline (Juiz de Fora: Funalfa, 2009) |
Que beleza de postagem - fotos e texto! Combinação perfeita! Grande abraço
ResponderExcluirObrigadíssimo, Maria Helena!!!
ExcluirBeijos,
Fernando