Série
de nove crônicas publicadas originalmente no jornal
Tribuna de
Minas de maio a setembro de 2000,
por
ocasião das comemorações dos 150
anos de Juiz de Fora.
O lugar do imaginário
Fernando Fiorese
As
metáforas arqueológicas são as que melhor dizem da relação do homem com as
cidades. Habitar uma cidade é escavar as camadas de tempos e espaços, acumuladas
e justapostas pelo trabalho de gerações. Labirinto ou Babel, a cena da cidade é
menos a matéria concreta de ruas, construções e alguns poucos resíduos naturais
do que as imagens e textos registrados na memória e no imaginário dos seus
cidadãos.
Mesmo
sem a viagem física, ao leitor contumaz é possível dizer da Berlim de Theodor
Fontane e Walter Benjamin, da Paris de Charles Baudelaire e Victor Hugo, do Rio de Janeiro de Machado de Assis e João do Rio, da São Paulo de Oswald e Mário de Andrade. Mas será
possível, a nós, habitantes desta cidade, dizer da Juiz de Fora de Pedro Nava,
de Murilo Mendes, de Rachel Jardim e tantos outros?
A
ênfase excessiva nos aspectos materiais da cidade muitas vezes oblitera a
nossa capacidade de pensá-la pelo viés da memória e do imaginário de seus
habitantes. Mesmo porque, ao contrário do que acontece em Porto Alegre,
Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (apenas para citar as mais óbvias),
as instituições públicas e privadas de Juiz de Fora muito pouco têm-se
empenhado na construção de uma identidade histórica e afetiva da cidade.
Enganam-se
os que pensam habitar apenas uma cidade física. Como um duplo, a Juiz de Fora
da nossa memória nos habita, assombra a matéria do presente. Mesmo desfigurados
ou extintos, os lugares e os acontecimentos pretéritos nos assaltam. A paisagem
interditada por algum edifício nos espreita quando dobramos uma qualquer esquina.
O tempo morto retorna diante do último resíduo arquitetônico do Cine Paraíso.
Habitar
uma cidade é aprender a escavar as camadas de tempo e espaço que nos conformam
enquanto cidadãos. Onde a Juiz de Fora de Murilo Mendes, cercada de pianos por
todos os lados? Onde a Rua Halfeld como um rio de Pedro Nava? Onde as “Imagens
de Juiz de Fora” cantadas por Manuel Bandeira? Onde os personagens anônimos de
150 anos de história? Infelizmente enclausurados em livros, álbuns de família,
papéis devastados pelo tempo e algumas poucas memórias privilegiadas.
Não
se trata de nostalgia nem de anacronismo. Para construir a cidade de todos e de
cada um, urge tornar coletivos a memória e o imaginário de Juiz de Fora.
Planejar uma cidade para o século XXI implica antes construí-la em nosso
imaginário, uma obra antes afetiva do que material. E decerto, possibilitar o
acesso dos cidadãos aos textos e imagens que registram o passado e o presente
de Juiz de Fora é permitir que possamos encontrar a nossa identidade, mesmo que
precária.
No
plano das mentalidades, urge um plano estratégico que resulte em investimentos
na construção de uma identidade afetiva e histórica de Juiz de Fora, na qual
inscrevemos medos, esperanças e utopias para construir a cidade que nos habita
na cidade que habitamos.
Sim, você tem toda a razão. Uma memória afetiva deve ser construída para Juiz de Fora pois ela respira e deita suas raizes em cada um de nós. Projetos que resgatem seus escritores, sua história, suas peculiaridades, deveriam ser mais incentivados e por nós, muito acolhidos!! Abraços, caro poeta e escritor. Seu espaço é excelente.
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