Série de nove crônicas publicadas
originalmente no jornal
Tribuna de Minas de maio a setembro de 2000,
por ocasião das comemorações dos 150
anos de Juiz de Fora.
F. BRACHER JR. (FREDERICO BRACHER JÚNIOR), RUA HALFELD
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Fernando Fiorese
A
Profa. Dra. Maria Margarida Martins Salomão, atual Reitora da UFJF, disse-me
certa vez que Juiz de Fora tem uma luz estranha. Desde então, compartilho com
ela desta cidade iluminada por uma incógnita.
O
poeta Iacyr Anderson Freitas contou-me da visão de um guarda na Praça Antônio
Carlos, posteriormente materializada num belo poema. Desde então, compartilho
com ele deste lugar e deste personagem.
O
pintor Dnar Rocha, mesmo sem o saber e desconhecendo quem seja este cronista,
revelou-me cores e paisagens desconhecidas de Juiz de Fora. Desde então,
compartilho com ele desta cidade plástica.
No
livro A idade do serrote, Murilo
Mendes transforma em prosa poética os personagens e acontecimentos de sua Ítaca
perdida. Desde então, compartilho com ele desta cidade cercada de mulheres e
pianos por todos os lados.
Algumas
das peças escritas por José Luiz Ribeiro, diretor do Grupo de Teatro Divulgação,
fizeram-me enxergar o passado e o presente de Juiz de Fora com a ironia e o
lirismo que caracterizam a obra do dramaturgo. Desde então, compartilho com ele
dos bastidores e do proscênio desta cidade.
Desde
que nos conhecemos, minha mulher desvelou-me a sua meninice entre os bondes e
as personagens do bairro São Mateus. Desde então, compartilho com ela da infância
idílica que não tive em Juiz de Fora.
O
poeta Edimilson de Almeida Pereira descreveu-me recentemente um crepúsculo
visto de dentro de um ônibus na margem esquerda do Paraibuna. Desde então, compartilho
com ele desta fugidia cena urbana.
As
memórias de Pedro Nava nos oferecem um inventário das misérias e das grandezas
de Juiz de Fora nas primeiras décadas deste século. Desde então, compartilho
com ele deste Baú de ossos.
As
obras dos artistas plásticos Stheling e Gérson Guedes me mostraram ângulos
inauditos da arquitetura de Juiz de Fora. Desde então, compartilho com eles das
texturas e das luzes desta cidade sonhado com pincéis.
Outros
tantos foram pródigos em textos e imagens. Compartilho com eles da cidade que
houve e não ouve a sua própria história, empenhada que está por inteiro no
processo de desconstrução e construção. Les
cités vont vite – e com elas as referências que nos permitem habitá-las,
descobrindo numa qualquer fachada não o fóssil do passado, mas o animal vivo do
nosso imaginário. O que fora urdido por nossas próprias mãos, como espelho,
torna-se labirinto, Babel de todos e de ninguém.
Não
quero a cidade imobilizada como museu a céu aberto. Não quero a cidade a
cultuar cadáveres e naturezas mortas. Quero a cidade das passagens que as
galerias do centro concretizam. Passagens onde possa transitar entre a
geometria bruta dos edifícios de estética duvidosa e as curvas transtornadas do
art nouveau. Passagens para a confluência
dos tempos, para estratégias de leitura de uma cidade que todos escrevemos.
Correção: informo que o autor desde quadro da Rua Halfeld é F. Bracher Jr. (Frederico Bracher Júnior)
ResponderExcluirCaríssimo Alexandre,
ExcluirDesculpando-me antes pelo equívoco involuntário, agradeço a correção e informo que já alterei a autoria da obra.
Cordialmente,
Fernando Fiorese